sexta-feira, 26 de março de 2010

CINCO SEGUNDOS

Um querido amigo me enviou esse texto, e vi que era um dos textos mais lindos que havia lido e por isso resolvi publicar.... cinco segundos não precisa de imagem alguma pois é inevitável que essas se criem naturalmente...




Cinco Segundos

“Foi num dia daqueles em que o centro fica vazio e o pessoal do escritório joga papel picado pela janela. Final do ano e do expediente. Você apareceu, sorriu meia dúzia de amigas e sentou na mesa ao lado. Bebeu cerveja de garrafa e comeu amendoim, cabelo preso num coque. Depois de você ali, a cidade calou. No meio do povaréu, pude ouvir seus dentes quebrando os amendoins, goles descendo pela sua garganta, cílios se roçando num piscar de olhos.
Sua chegada condenou toda aquela gente a morte instantânea.
Naquele momento, fiquei sabendo de tudo. Que iríamos nos conhecer em cerca de meia hora, quando eu me levantasse para tentar falar bonito, entre goles e nossos olhares de espadachim. Sabia que treparíamos poucos dias depois como dois desesperados, pais de filhos natimortos, nos enlevando como quem precisa. Fiquei sabendo, olhando para você na outra mesa, que nossa persistência mútua seria comparável a teimosia de ditadores, cães loucos e donas de casa. Que nosso amor arrancado a fórceps seria perdido para ser encontrado depois, reencontrado depois, muitas vezes, quantas vezes fosse preciso.
Sabia que brigaríamos como nunca fizemos com ninguém antes, e nos xingaríamos de nomes que você teria vergonha de contar até para si mesma. Mas depois faríamos as pazes, doentes de paixão. Bêbados, dançando e rindo do que só nós dois poderíamos entender. Trocando a noite pelo dia, trancados por semanas em casa, ouvindo música, vendo filmes, dormindo abraçados. Sabia que, rapidamente, ganharíamos intimidade: banheiro de porta aberta, beijo sem escovar os dentes, você fazendo café de calcinha. E sabia que você diria, alguns meses depois, que eu era o melhor amante que você já teve. E que nunca mais iria querer outra pessoa.
Antes de você terminar a cerveja do seu copo, eu já sabia como iria gostar de ouvir todas essas mentiras.
E como iria te retribuir com outras.
Mesmo assim, apesar e por causa disso, ficaria ciumento e obsessivo como um psicopata de cinema. Faria perguntas insidiosas sobre seu passado, ex-amantes e namorados. Sobre quem te levou para a cama, e quem te deixou lá. Descobri que ficaria com taquicardia e mãos trêmulas ao imaginar você com outra pessoa, no futuro ou no passado. Descobri que você iria despertar o meu melhor e o meu pior, em proporções igualmente febris. E que também iríamos superar isso.
Você me ensinaria, com seus modos calados, a viver melhor. Tomar banho lavando as costas, comer várias vezes por dia, pensar menos. Você iria combater meu impulso suicida contra o nosso amor. Não sei se você chegou a descobrir isso ainda, mas não é que o amor simplesmente acabe. O amor é morto em dias claros como esse. Carrega em si a semente desse assassinato. Às vezes o crime é culposo. Em outras, cheiramos a fumaça que sai do buraco da bala com prazer dissoluto. Mas o normal é que seja morto corriqueiramente, como um tropeço. Com você seria diferente. Descobri, só de olhar o jeito do cabelo cair na sua testa, que você lutaria até o fim para que eu não esquartejasse o nosso amor. Você iria conseguir.
Sabendo disso tudo, foi como se não tivesse escolha. Deixei uns trocados na mesa, levantei e lancei um último olhar na sua direção, já quase virando a esquina. Em alguns meses, esqueci dos seus olhos verdes e, com eles, tudo que descobri, em não mais que cinco segundos, num dia daqueles em que o centro fica vazio e a gente do escritório joga papel picado pela janela.
O amor é morto em dias claros como esse.”
[João Paulo Cuenca]

sexta-feira, 5 de março de 2010

Cultura não é só no mês de Julho


As pessoas das cidades do interior possuem o estranho habito de achar que as atividades culturais dessas localidades existem somente em determinados períodos do ano, no caso da cidade de Jaú as pessoas só lembram da existência do Teatro Municipal durante o mês de Julho para espetáculos e em dezembro para as formaturas.
Como diretora de Artes Cênicas desse município há mais de um ano, expresso minha preocupação, e crio esse texto para obter opiniões em como modificar esse quadro.
Atualmente temos uma programação de excelente qualidade, mas fora do eixo televisivo (artistas globais), no ano de 2009 recebemos pelo Circuito Cultural Paulista grupos como: Folias D´art, Teatro Vento Forte, Circo Vox, Furunfunfum, Parlapatões, Ballet Stagium, Badi Assadi, entre vários outros e nenhum desses atingiu o publico que tivemos durante o Julho Cultural.
Não podemos desconsiderar que esse evento acontece em Jaú há 18 anos, e por isso já faz parte da identidade cultural enraizada ao município, mas se a população sente necessidade em assistir espetáculos nesse mês porque não assistir no restante do ano?
Agora em 2010 temos como plano de trabalho o desenvolvimento de uma programação mensal no teatro municipal, possuímos como meta despertar o interesse para eventos artísticos no cotidiano das pessoas, trabalho árduo de formação de publico que poderá ou não dar resultados.
Para iniciar esse trabalho na próxima semana teremos a realização de dois espetáculos através ProaC, Programa de Ação Cultural da Secretaria do Estado de Cultura, esse programa tem como objetivo incentivar a criação e a circulação de espetáculos em todo o Estado. A prefeitura de Jaú se sente orgulhosa em fechar essas parcerias e através desses espetáculos proporcionarmos ações culturais de alto nível para sua população.

Dos Espetáculos:




Heiner Muller em repertório 11/03 às 20h30m
Espetáculo constituído de uma linguagem teatral contemporânea através de uma convergência de linguagens como, dança, teatro, vídeo, musica eletrônica e moda para abordar temas como a mercantilização e as guerras.
A montagem desse espetáculo tem por objetivo divulgar e celebrar a obra de um dos maiores autores do século XX, através de uma montagem que reúne as peças mais significativas de sua obra e, principalmente, facilitando o acesso à população disponibilizando entradas gratuitas.
A Companhia Nova de Teatro vem se destacando na cena cultural paulistana por dedicar-se à pesquisa da cena visual, ou seja, trata-se de um espetáculo que busca o aprimoramento do uso da imagem.


Porque a criança cozinha na polenta 13/03 às 20h30m
Trata-se de um dito romeno, equivalente ao “bicho papão” no Brasil. Esse dito assombrará a menina nos momentos cruciais de sua vida
O texto autobiográfico da Romena Aglaja Veteranyi encenado pela Cia. Mungunzá de teatro arrebatou mais de 24 prêmios no segundo semestre de 2009.
O diretor do espetáculo Nelson Baskerville optou por uma linguagem épica, forma de teatro didático que faz com que o espectador se identifique comas personagem através do distanciamento, desta forma “Porque a criança cozinha na polenta” permite que os atores se revezem por vários personagens.