quarta-feira, 19 de maio de 2010

O Surgimento da Demanda


Recém chegada a Terra do Nunca, essa criatura que vos escreve se alista para sua primeira guerra em uma pequena sala no Pátio desbotado do Castelo de Guiomar, na ingenuidade de menina e na humildade de querer se sentir útil, como se tivesse naquele momento como a maior meta de sua vida ser uma monitora do Festival de Inverno de Ouro Preto e Mariana, fórum das Artes.... e confesso que realmente era.

Ao ver que eu iria me tornar uma laranjinha, cor da camisa da equipe de eventos (aliás, as cores das camisas dos monitores sempre foram escolhidas e tons aprimorados) eu senti tanta felicidade, mas tanta felicidade que me recordo ter sentido algo parecido somente duas vezes na minha vida, uma quando ganhei a casa da Barbie e outra quando meus pais me deram uma máquina de lavar roupas. Ser uma laranjinha não tinha preço.

Existem certas alegrias que podem até serem sofridas junto ao vento que batinha naquela Praça da UFOP, e congelava os coitadinhos dos monitores que de laranjinhas ficavam todos roxinhos, arrastando grades de palco por todos os lados do rigoroso inverno ouropretano.

Os 30 dias passaram junto aos melhores shows da minha vida, até chegar o ano seguinte.

Aquela pequena sala no Pátio desbotado do Castelo de Guiomar não tinha mais o poder do alistamento, nesse momento já não me interessava quem lhe tinha, eu havia sido uma boa carregadora de grades e já sabia usar o rádio, e tinha um casal de curadores que me adoravam e me colocaram para estagiar. Estes amigos, anjos e desorientadores que me ensinaram tudo que eu aprendi sobre produção, porque eles não sabiam nada, ou seja, era as estagiárias quem fazia, logo aprendi na marra e vestida de verde limão a fazer check list, planilha, programação, e usar os termos “pepino” “abacaxi” e o soberano “demandas”.

Os 90 dias passaram junto aos melhores shows e espetáculos de teatro da minha vida, até chegar o ano seguinte.

A pequena sala no Pátio desbotado do Castelo de Guiomar estava fechada, e eu que já nem sabia quem alistava os verdadeiros guerreiros, porque eu já havia agregado o poder do check list na minha vida e o curador seguinte me colocou para receber o poder do rádio, junto aos tickts e o feliz crachá de acesso livre, tão almejado em meus tempos de laranjinha! Agora eu era uma feliz vermelhinha já podia vazar livremente pelos cortejos que insistiam em complementar a programação.

Os 120 dias passaram junto aos melhores shows, espetáculos de teatro, circo e dança da minha vida

Mal sabia eu que a pequena sala do Pátio desbotado do Castelo de Guiomar se reabriria sob o meu comando e que eu alistaria um exercito, livre de qualquer cor fluorescente. A produtora mais exigente do festival me colocou na escuta como sua assistente, se nesses últimos 3 anos houvesse ficado alguma dúvida sobre o que é fazer um check list, ou sobre algum botão do rádio, ou sobre como fechar uma programação ou até mesmo em identificar um hortifrutigranjeiro durante uma produção cultural, estas teriam se partido junto aos últimos melhores shows, espetáculos de teatro, circo, dança, cinema e cortejos da minha vida.

2 comentários:

  1. Panini na escuta?

    Castelo de Guiomar....adorei o termo....hahahahaha...E esse casal de desorientadores!? Muita risada...

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  2. vc da laranjinha eu de amarelinha, era tudo lindo!
    mal sab amos nos sobres os anos que se seguiam.
    saudades

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